ivanir-aguiar-222122Houvera de se buscar um homem, portanto, Giribé, a quem um coice de baio roubou a razão: caminhos, becos turvos, igarapés e atoleiros, pântanos e vertentes, alagados dos Solimões.

Há de se juntar o coração do tolo, ao turbilhão das águas, canto doce do grande rio que se faz ouvir quando mais longe. O vento, a voz e o rio traduzem fielmente quem é aquele ser humano misto de caboclo, branco e índio.

As araras no Solimões mais azuis do contato com o verde da floresta e o sol abrasante que lhe pintam o céu nas enfunadas velas de penachos coloridos. Alegres araras que enfeitam a inocência de Giribé e lhe festejam o cristal do sorriso. Giribé na arvores, nos cipós, na manhã amarelecida de sol, afagando os barulhentos, cuja rouquidão espalhafatosa enche de sons e alegria as matas tropicais.

Há de se saber, Giribé, a quem a caridade e a natureza dão o de comer. A quem e somente de quem os pássaros vêm comer em suas mãos e lhe parte da maldade humana, que gente não fosse.

Giribé é mais que um bicho, no dizer da gente Tabatinga. Se as serpentes e as pintadas não lhe fazem mal, se pequeno e inofensivo, se pequeno e frágil, se roto e feliz, então os bichos lhe entendem a natureza e vêm beijar-lhe os pés descalços e as víboras e todas as peçonhas da mata não se assustam com o Giribé, que é bicho como eles, aceitando seus afagos, brincadeiras e converse.

Havia no lago do kiré, uma prenda chamada Dodôra, morena desenxabida, forjada nas fraldas do lago e nos flutuantes de vender querosene e farinha, onde os pescadores  se reuniam à tardinha  para beber tragos e falar de estórias que bem Giberé gostava de escutar.

Os pescadores de fim de tarde são os que gostam e margeiam o igarapé subindo para o lago do Kirè porque a natureza dos homens carece do sentido tribal e ninguém tinha muito que fazer por aqueles pagos a não ser jogar conversa fora e dar beliscões nas cunhãs que cruzavam o lago nos casquinhos, atrás de um pouquinho de não-sei-o-que, ou dos beliscões mesmo. Gibiré sempre chegava de mansinho, de chegar, e ninguém se lhe dá. Se o desejasse. Talvez um copo de água. Água salobra e murmura por obrigação: Deus lhe pague!

Se lhe oferece tabaco, aceita prontamente. São ternos, os pescadores, como Dodôra é calorosa gentil lhe mostrando as pernas roliças e as coxas grossas, assanhando ao invés da libido, o coração do tolo que entende só de bichos, rios e igarapés.

Dono do saber e da razão, a quem mais por soberana razão irá confidenciar, de sonhos e desenganos ou de amor e ira. Dos puros é a consciência de acordar os ventos e a beleza, bulir com os elementos, compreender-lhe a importância, a beleza, como o vermelho, que precisa do seu oposto para ser vivo e belo. Á água, água. A pedra, pedra. Este artigo é o inicio do “Amor Amazônico”.

Texto: Ivanir Aguiar – Jornalista e membro da Academia Vilhenense de Letras 

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