Transcorria tranquilo o ano de 1983 quando uma seca devastadora veio sobre a região sul e sudeste do país. Naquela região estava concentrada a maioria absoluta das lavouras de soja e milho do país.

As perdas dos agricultores foram colossais e não havia um seguro que cobrisse eventuais frustrações de safra. Na ocasião eu trabalhava numa indústria de máquinas agrícolas. Em março daquele ano fechamos o balanço anual com vendas e resultados satisfatórios, consoante nosso planejamento operacional. Sabe o que ocorreu dois meses depois? Passei por algo nunca visto, nem pensado existir, em minha vida profissional.

Diante daquela calamidade, a empresa resolveu fretar um avião, por uma semana, embarcando nele toda a diretoria e mandá-los visitar e dar apoio pessoal aos nossos principais clientes. A imagem dos campos ressequidos e da colheita frustrada, era desoladora; porém o churrasco noturno tinha a capacidade de unir e descontrair as pessoas. Foi uma experiência inusitada, porém educativa, profissional e altamente gratificante para todos os envolvidos.

Tivemos de fazer o seguinte: 1.-Receber, em devolução, quase a metade das máquinas vendidas naquele exercício fiscal. Tais máquinas foram recolhidas, das fazendas para a fábrica, retornando-as ao nosso inventário; 2.-Tais vendas foram contabilmente estornadas, gerando receitas de vendas “negativas” no primeiro semestre do novo exercício fiscal; 3.-Reformá-las uma a uma, pintá-las e revendê-las como máquinas usadas (com uma redução substancial do preço de venda); 4.-Arcar com prejuízos expressivos, diante da calamidade; 5.-Prorrogar o vencimento de parte significativa de nossas contas a receber, sem encargos financeiros …

A 1a. e 2a. colocada no mercado dessas máquinas agrícolas eram empresas norte americanas. O presidente da nossa empresa (2ª. colocada) telefonou ao principal concorrente, manifestando o desejo de ir visitá-los, a fim de discutir a crise, no que fomos prontamente atendidos. Toda a nossa diretoria dirigiu-se à fábrica do concorrente, onde nos foram abertos seus principais e mais sigilosos números de produção e valores, estoques, quantidades vendidas e montante de perdas prováveis.

Impressionante como num momento de crise as empresas conseguiram se unir, respeitosamente, procurando, de todas as formas possíveis, preservar seus clientes para nossa sobrevivência. Foi uma experiência única! Sim, os clientes que haviam sustentado nossos negócios nos anos anteriores e pago nossos salários, agora estavam precisando do nosso apoio e consideração, respeito e tolerância.

Conclusão: Todos enfrentamos lutas e crises, ao longo da vida. Este episódio me ensinou valiosas e inesquecíveis lições. Dois anos depois havíamos superado o problema da profunda estiagem. Os clientes são a razão de ser das empresas. Que o episódio acima possa, de alguma forma, ensinar algo de útil, aos jovens empresários e gestores. Todo o problema tem uma solução. E assim, pela fé, prosseguir com otimismo e convicção, rumo a dias melhores, porque sempre depois da tempestade vem a bonança. Eu creio nisso !

Texto: Humberto Lago/Consultor Empresarial

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