Em comemoração ao aniversário do Município, que acontece neste final de semana, o Extra de Rondônia trará uma série de entrevistas nos próximos dias onde pioneiros da cidade vão contar um pouco da história local através de suas experiências.

Abrindo esta cobertura especial as memórias de um personagem que vive por aqui desde 1968, e que há 45 anos acompanhou o desenvolvimento de Vilhena pelo para-brisa de seu táxi.

Gonçalo Pereira de Castro lembra exatamente o dia em que chegou na cidade, atraído por comentários sobre um promissor garimpo na região. “Cheguei aqui no dia 21 de abril de 68, com muita esperança e vontade de trabalhar, e hoje me considero um homem realizado e feliz por ter vivido mais de cinquenta anos nesta cidade”, diz o taxista logo no início da conversa. Natural do Ceará, ele migrou para Rondônia a partir do Rio de Janeiro, depois de ter tido notícias promissoras sobre o então Território Federal através de parentes que viviam em Guajará-Mirim.

Ficou um tempo naquela cidade até ouvir falar de um tal “Garimpo da Serra Morena”, no Mato Grosso, para onde partiu com objetivo de enriquecer. “O garimpo não deu certo e acabei ficando aqui em Vilhena, onde após passar alguns anos trabalhando em várias atividades, acabei virando chofer de praça, em junho de 74”, relata. O serviço como taxista era muito bom naquela época, devido a grande movimentação de imigrantes que chegavam aos milhares na região para começar o desbravamento da floresta.

A clientela era bem diversificada, e ia de peões a empresário incipientes, prostitutas e pistoleiros, gente de bem e pessoas suspeitas. “Passei alguns apuros, mas sempre me safei bem e por isso estou aqui até hoje”, comenta.

A Vilhena que Gonçalo conheceu era muito distinta da de hoje. “Era um vilarejo bem pequeno, resumido praticamente ao aeroporto, um posto de combustíveis que abastecia com lata e mangueira, porque não tinha bomba, não havia água encanada nem energia elétrica, mas sobrava esperança para quem aqui chegava”.  O que mais impressionava Gonçalo era o movimento enorme na cidade, principalmente a partir da segunda metade dos anos 70. “Ali nas imediações de onde hoje está a Escola Álvares de Azevedo era um enorme acampamento de colonos que vinham do Sul atrás de terras no Colorado, que na época era chamado de ‘21’. Foi nessa onda que muitos ganharam dinheiro e por causa de todo aquele movimento foi que eu decidi trabalhar como taxista”.

Gonçalo fala que Vilhena por ser um ponto de passagem para as terras férteis do Cone Sul, era movimentada, porém paradoxalmente tinha seu crescimento estagnado. “A coisa só deslanchou a partir da década de 80, quando Vilhena começou a ter vida própria na política”, considera. Por isso, ele credita aos primeiros prefeitos da cidade o feito de terem colocado o Município na rota do desenvolvimento. “Vitório Abrão, apesar de não ter concluído o mandato, deu o pontapé inicial para que a cidade entrasse na rota do desenvolvimento, e Lorivaldo Ruttmann foi um revolucionário. Eles plantaram as sementes que resultaram nesta grande cidade que temos hoje”, destaca.

Mesmo não participando ativamente da política, Gonçalo acompanhou com interesse tudo o que aconteceu neste setor, e se entristece com tantos problemas que ocorreram nas últimas décadas, com cassações e prisões de políticos locais. “Isso foi ruim para nossa cidade, mas agora parece que as coisas voltaram aos trilhos, com o atual prefeito, que em meu ponto de vista é o que melhor tem atendido a periferia. Há muitos setores na cidade onde eu não entrava com meu táxi porque não tinha condições de circular, e hoje rodo a cidade inteira sem problemas”.

Falando do ofício, o taxista diz que se pôde fazer a vida, criar os filhos e ter dignidade por muitos e muitos anos, hoje a situação é bem diferente. “Enfrentamos muita concorrência que considero desleal, e dificilmente alguém que está começando no ramo hoje conseguiria sobreviver com o mesmo padrão de vida que eu tive por tanto tempo”, dispara.

Feliz e realizado, Gonçalo disse que jamais se arrepende por ter escolhido Vilhena para viver, e que só tem a agradecer a Deus pela oportunidade de ter passado tanto tempo por aqui e assistido ao pequeno vilarejo com “meia dúzia de casinhas” se tornar um Município de cem mil habitante e um dos principais do Estado de Rondônia.

 

sicoob

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