Servidores do Hospital Regional de Vilhena / Foto: Divulgação

Quem tenha a oportunidade de conhecer de perto o esforço sobre-humano empreendido pelos servidores do Hospital Regional de Vilhena no seu dia a dia, com certeza há de reconhecer que são pessoas dotadas de virtudes um tanto difíceis de encontrar num mundo carregado de individualismo e falta de interesse pelo bem do próximo.

Como paciente – nos sentidos clínico e comportamental da palavra – vi de perto a grandeza dessas criaturas que enobrecem, com seu denodado profissionalismo, a espécie humana.

Mas não se bate papo com um jornalista sem o risco de passar-lhe informações. Nessas três décadas e meia de dedicação a esse ofício, aprendi que tenho mesmo que policiar minhas reais intensões até quando digo “bom dia”, pois por vezes é mais uma pergunta que um despretensioso cumprimento. Eis que foi inevitável conhecer e registrar as dificuldades que os profissionais que atuam no Hospital Regional enfrentam como cidadãos e chefes de família, em que pese jamais passarem qualquer angústia para os que recorrem aos seus préstimos profissionais. É sempre entre sorrisos gentis e palavras ternas que acolhem aos que lhes chegam.

Glicemia a 427. É bem certo que já eram escassas as possibilidades de eu estar aqui hoje escrevendo mais um texto. A visão já estava turva. E a bronquiectasia que me restou de algumas pneumonias seguidas acentuava a sintomática dificuldade de respirar. Nessas horas, a receita é uma só: pensar em Deus e buscar socorro. Insulina corretiva, litros de soro… mas, com certeza, a mais curativa de todas as injeções foi a de ânimo. Aos poucos me acalmo e me recupero. E, já que a vida continua, pergunto-me por que dispensar tão especial pauta? Afinal, o movimento ,coisa rara por ali, estava relativamente calmo, permitindo-me fazer o que mais gosto nesta vida: perguntas.

Nem barulho do ar condicionado havia, até porque os aparelhos foram retirados, havendo hoje apenas os buracos nas paredes e as janelas permanentemente abertas. Nada de ventilador. E paredes sem pintura e caixas de tomada e interruptor sem suas tampas e com os fios expostos completam o cenário de descaso e desrespeito para com pacientes e profissionais que ali cumprem sua missão.

Fico então sabendo que aqueles anjos de jaleco, técnicos de enfermagem, que percebem um salário quase mínimo, cerca de pouco mais que mil e trezentos reais, têm algo em comum com os profissionais de nível superior, enfermeiros, médicos e outros: estão até hoje sem receber as gratificações que lhes deveriam ser repassadas pela Administração Municipal. Simplesmente repassadas. E assim, para garantirem uma remuneração um pouco melhor, que lhes permita fazer frente às despesas de uma habitação com um mínimo de dignidade, desdobram-se em jornadas extraordinárias, expondo-se, dessa forma, ao estresse, à fadiga e à exposição mais alongada aos riscos de contaminação inerentes ao seu ambiente de trabalho. Mas não deixam de atender.

Há com certeza outros caminhos a trilhar, em especial o bom aproveitamento do corrente momento político, que oportuniza promover a mudança na administração municipal. Mas vejo que a esses anjos de jaleco cabe a mesma receita que utilizei: pensar em Deus e pedir socorro. Esses heróis, que se desdobram não apenas no tempo, alongando suas jornadas, mas também no espaço, praticamente estando em dois lugares ao mesmo tempo, como o médico que se alterna entre o pronto-socorro e o ambulatório, não apenas pensam em Deus como agem em nome dele, salvando vidas.

Mas também pedem socorro: precisam urgentemente que todos os cidadãos desta cidade, tão bonita e progressista que é Vilhena, eliminem essa mancha negra que é o descaso da gestão municipal para com a saúde pública, com a redução à metade do quadro de médicos, com instrumentos caros e de última geração, como tomógrafos, dentre outros, adquiridos com recursos vultosos, simplesmente parados, sem serem usados, alguns sem sequer serem instalados. Esses heróis pedem socorro. E o fazem para poder prestar socorro. Que neste momento de decisão todo cidadão vilhenense, pare e reflita sobre o seu direito à vida na hora de decidir entre retomar o progresso e sucumbir à estagnação.

 

Edson Lustosa é jornalista, gestor organizacional e presidente do Centro de Estudos e Pesquisas de Direito e Justiça.

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