Esporos de ferrugem asiática caindo de folha de soja/Foto: Reprodução

O plantio da soja na safra 2022/23 está avançado nos principais estados produtores do grão, dentro da média histórica das últimas cinco temporadas.

Em Mato Grosso, por exemplo, a semeadura ultrapassa 95% da área, conforme levantamento da última sexta-feira (11) do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). E a ferrugem asiática, principal doença da cultura, já começa a dar as caras.

No entanto, não é no líder de produção da oleaginosa que os primeiros registros do fungo começaram a aparecer. De acordo com o Consórcio Antiferrugem, dois casos, ambos em soja voluntária, foram reportados no Rio Grande do Sul. O primeiro deles em Pantano Grande, no centro do estado, e o segundo em Passo Fundo, no centro-norte gaúcho.

Na safra 2020/21, os dois municípios foram responsáveis pela produção de 112,080 toneladas da oleaginosa, conforme o último balanço divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Já a presença de esporos de ferrugem foi identificada, por enquanto, em cinco localidades do Paraná: Entre Rios do Oeste, Marechal Cândido Rondon, Primeiro de Maio, Sertanópolis e Ubiratã. Juntos, produziram 494,436 toneladas de soja no ciclo retrasado.

Desta forma, pelo estádio inicial da cultura, ainda não há reportes de casos oficiais em lavouras comerciais. Segundo o pesquisador da Embrapa Soja, Rafael Soares, as ocorrências de esporos apareceram um pouco mais cedo este ano, mas ainda não foram encontrados em plantas, apenas no ar. “Em muitos locais as plantas ainda estão pequenas. Já tivemos anos em que, nesta época do ano, já havia detecção nelas também, o que ainda não ocorreu nesta safra”, destaca.

Perspectivas para a safra 22/23

Na safra 21/22, o Consórcio Antiferrugem registrou 573 casos da doença, a maioria em Mato Grosso, com 262 reportes, seguido por Rondônia, com 108. Assim, os números gerais de aparecimento do fungo na temporada passada são 48,8% maiores do que no ciclo 20/21, que computou 385.

Desta forma, com mais um novo recorde em área plantada de soja – estimada em 43,2 milhões de hectares pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) – o produtor pode ficar apreensivo com uma nova disparada nos números. No entanto, isso não necessariamente acontecerá, diz Soares.

O que dita a quantidade de ocorrências, geralmente, é o clima. Evidente que quanto mais plantas de soja, mais chances há de aparecer a doença. Contudo, se o clima for semelhante ao dos anos anteriores, como na região Sul em que o tempo foi mais seco e tivemos menos casos, sendo que a maior parte da ferrugem apareceu na região central do Brasil, este ano podemos ter uma repetição, ainda mais porque teremos predominância de La Niña”, considera.

Esse fenômeno traz à tona um ditado conhecido entre pesquisadores: quando o clima favorece a soja, também beneficia a ferrugem. “Quando chove de forma regular, a tendência é produzir mais o grão, mas também demanda mais cuidados para controlar a doença. Como tivemos uma grande seca no Sul na safra passada, a ferrugem não veio com tanta força por lá”.

Produtor tem controlado a ferrugem?

Apesar do aumento de reportes de ferrugem entre as safras 20/21 e 21/22, é possível notar um grande avanço no controle da doença em relação às temporadas que mais tiveram registros. Em 2008/09 houve o maior pico de casos até hoje, com 2.884, ou seja, 403% a mais do que na última temporada finalizada.

Tal redução no índice é um sinal claro de que o agricultor de soja aprendeu a controlar o surgimento e os impactos do fungo, ainda que a sua existência pareça inevitável. “O produtor já conhece bem a doença, embora ela seja imprevisível pela questão climática. O sojicultor tem feito as aplicações de fungicida e semeado cedo, o que ajuda a ‘escapar’ da ferrugem, sendo uma das maneiras mais eficientes no manejo da doença”, afirma o pesquisador.

Desafios na lavoura

Pulverização na soja. Foto: Divulgação Jacto

O aumento da resistência aos fungicidas, porém, segue como um problema. Soares enfatiza que o fator advém da própria natureza e a tendência é permanecer. “Entretanto, estamos tentando manejar  e o lançamento de novas moléculas pelas empresas tem ajudado nisso. O uso de cultivares resistentes é outro aliado e este é um desafio para a pesquisa, para os desenvolvedores de cultivares, que começam a lançar uma quantidade maior de materiais que tenham o gene de resistência ao fungo”.

Do outro lado, segundo o pesquisador da Embrapa Soja, os obstáculos aos produtores se referem à tecnologia de aplicação de fungicidas e escolha dos produtos a serem utilizados. “É evidente que cada produtor tem de se adaptar ao que tem disponível em sua propriedade, em sua região, mas é importante que busque o máximo possível de ferramentas para controlar a doença”, exemplifica.

Aplicações de fungicidas para controle da ferrugem

Em todas as safras computadas pelo Consórcio Antiferrugem (2004/05 a 2021/22), o maior número de casos de ferrugem asiática ocorre no estádio R5 da soja, que é a fase de enchimento das sementes. Soares destaca que esse dado comprova que o  aparecimento da doença se dá em fase mais tardia.

“Por isso, é importante que as aplicações de fungicidas sejam preventivas, mas não de forma exageradamente precoce. Muitos agricultores costumam fazer as aplicações logo no estádio vegetativo, mas os próprios dados do Consórcio mostram que ocorrência de ferrigem em V3 ou R1, R2 são exceções”, especifica o pesquisador.

sicoob

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