Ivan Barbieri, diretor-geral da Santa Casa de Chavante / Foto: Extra de Rondônia

Em entrevista exclusiva ao Extra de Rondônia, Ivan Barbieri narra como encontrou e como está hoje a estrutura oferecida pela rede pública municipal de saúde, em Vilhena.

Ele é o diretor-geral da Santa Casa de Chavante, entidade filantrópica para a qual a prefeitura terceirizou a gestão das unidades de saúde, desde janeiro.

 

EXTRA DE RONDÔNIA — Vocês estão aqui há quase três meses. Qual o balanço deste período?

IVAN BARBIERI— Chegamos num cenário obscuro. Sabíamos apenas que a saúde se encontrava em estado de calamidade pública. Teríamos que mapear toda a área e, de princípio, nos deparamos com uma atenção básica, nos postinhos, com equipes corretas e sem faltar funcionários. A nossa dificuldade era ter pessoas para fazer gestão e produção. No Hospital Regional foi onde encontramos a situação mais crítica.

 

EXTRA — E como estava cada setor da saúde?

IVAN — A parte de recursos humanos era um absurdo. Havia déficit de servidores. Às vezes, uma enfermaria com 15 pacientes tinha apenas um técnico de enfermagem, ou então um enfermeiro para cuidar de tudo.

A questão da limpeza. O hospital muito sujo. A empresa terceirizada tinha um número pequeno de trabalhadores que não davam conta de toda a limpeza, de maneira adequada. Terceiro ponto: muita demora para realizar cirurgias. Também registramos muitas transferências para outros hospitais, principalmente para cirurgias ortopédicas.

E ainda: a água que abastecia o Hospital Regional estava contaminada com coliformes fecais. Não realizavam a limpeza na caixa de água. Não havia tratamento algum da água, e muito menos dedetização adequada. Havia diarreia em decorrência de as pessoas beberem a água do bebedouro do hospital.

Um ponto ainda mais assustador foi encontrado na neonatologia. Eram seis bercinhos, incubadoras, tudo restrito a um espaço pequeno, inadequado, com medicamentos armazenador de forma incorreta. As mulheres nos corredores esperando para entrar e já ter o filho, sem triagem, sem conforto algum. Conseguimos outro espaço, com UTI, inclusive, para a maternidade.  Estava tudo guardado há dois anos. Tivemos que revisar e montar tudo, os equipamentos estão em uso e no espaço melhor.

Na parte tecnológica, o que vimos ao chegar é que o hospital era totalmente analógico, sem estar conectado a qualquer tipo de sistema; sem prontuário eletrônico, sem controle de estoque, um hospital sem números. Tinha uma empresa que aparecia uma vez por mês, e não sei como lançava toda a produção, eu não sei como ela conseguia dados, no sistema do Ministério da Saúde.

 

EXTRA — E de todos estes pontos-chaves, o que mudou?

IVAN — A contratação de pessoas. Até o momento admitimos 519 funcionários. A maioria para o HR, outros para a atenção básica e a UPA. Ainda precisamos de quase 300 funcionários para estarmos realmente de acordo com as exigências dos órgãos de controle e as entidades de classe, como são o Coren e o Cofen (conselhos de enfermagem). É preciso redimensionar o papel de cada profissional nas unidades de saúde.

 

EXTRA — Os R$ 9,2 milhões que a prefeitura repassa mensalmente a vocês são suficientes?

IVAN — Quando assumimos, a prefeitura gastava 60% deste montante com a folha de pagamento dos servidores, fora horas-extras e bonificações. Ainda estamos reavaliando o que é permitido por lei, o que é necessário de fato. Desde a nossa entrada, conseguimos reduzir R$ 1,5 milhão só de hora-extra. Atingiu alguns servidores? Sim, atingiu. Mas temos que olhar para o coletivo, o bem maior. Hoje o Hospital Regional tem mais funcionários, atende melhor a população. Alguns perderam horas-extras, mas tiveram a opção de terem vínculo com a Santa Casa de Chavantes, com salários-base muito bons. É preciso recursos para investimentos e ‘starts’ de novos programas e ações. Não podemos gastar tudo com folha.

 

EXTRA — E as cirurgias em que os pacientes precisam ser levados para fora? Houve avanços?

IVAN — Nenhum paciente de ortopedia é transferido, agora. Acabou isso. Somente as cirurgias muito pontuais, como são as de bacia, ainda não conseguimos fazer.

Em 14 anos, não havia cirurgias neurológicas. Os pacientes acabavam falecendo aqui mesmo, por problemas encefálicos. Quando transferidos, já chegavam em Cacoal, mortos. Conseguimos dar os reparos a alguns equipamentos, conseguimos insumos, e já posso garantir que muitos serão atendidos sem sequelas ou terão condições de vida melhor, nesta área.

Também não existiam procedimentos de cálculo renal, a chamada retirada se pedra de rim. Passamos a usar aparelhos dos médicos, mediante pagamento, e adquirimos os insumos descartáveis para resolvermos isso. O que não temos ainda é cateterismo, mas estamos estudando para resolvermos e ter uma hemodinâmica aqui.

E não podemos esquecer da saúde básica. O postinho do Cristo Rei, por exemplo, fechado há tanto tempo, já é uma realidade. E onde era o postinho, será Casa da Gestaste, com atendimento adequado e uso para maternidade, com partos normais.

 

EXTRA — E a UPA? O que foi feito?

IVAN — Primeiro, limpeza e faxina. Vamos deixar o contrato da empresa terceirizada vencer para melhor ainda mais. Eles têm dificuldades para entender que o gerenciamento é nosso. Mas mudamos o principal: o gerenciamento da UPA, colocamos um médico nosso, contratado, para acabar com o que acontecia lá: gente internada até três ou quatro dias sem um encaminhamento, sem ter um porquê. Interliguei as duas gestões, UPA e HR. Agora, tendo vaga no hospital, já encaminham logo o paciente que precisa de internação. Próximo passo é ter uma informatização única. Precisamos de estatísticas para tomarmos as decisões certas.

 

EXTRA — Como são tratados agora os pacientes de fora, que vêm do Mato Grosso e de cidades do Cone Sul?

IVAN — Não mudou nada. Continuam sendo atendidos, normalmente. Recentemente fizemos as cirurgias de cataratas com muitos pacientes da região, além dos atendimentos comuns. Agora, é preciso rever as pactuações com as prefeituras, dos valores dos repasses; os municípios precisam ajudar a arcar com os custos, mas aí já é uma questão da prefeitura e do secretário de saúde. Eu não sei ao certo.

 

EXTRA — E o Instituto do Rim?

IVAN — Estava precário, começando pela conservação do prédio. Melhoramos a sala da hemodiálise, onde tem paciente que precisa do local três vezes por semana. O Instituto do Rim funciona 24h por dia. É preciso muita dedicação. Vários maquinários ficavam apitando toda hora. Era um terror. Quando apita a máquina, indica que a hemodiálise não está fazendo efeito. Também não despendiam o tempo correto de quatro horas no mínimo para cada atendimento. Todos os pacientes apresentaram resultados abaixo do que o Ministério da Saúde exige no Kt/V, que é um método que avalia a adequacidade da diálise do paciente, isto é, se ele está conseguindo ter uma diálise de qualidade. Trouxemos 35 maquinários adequados, trocamos as poltronas, treinamos a equipe. Basta ir lá e ver como tudo mudou. Hoje, fazemos até brincadeiras e bingos para tornar o procedimento e o ambiente mais humanizados. Havia gente que não andava mais, e voltou a ter a vida melhor, inclusive andando. A alegria reflete até nos funcionários em ver isso, é uma evolução muito grande.

sicoob

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