ivanir-aguiar-999Senta aqui, meu pretinho. Já que chove. Vai molhar o cabelinho. Oh! Arrume perto da vó aqui na janela. Trepa no banquinho. Bota os joelhos aqui. Ai assim, não, mais para cá, assim. Escuta o tropel da chuva. Parece bando de caititu disparado. Èvem chegando é de prata. Prata é branca. Branca é difícil de explicar. O preto é mais focinho. A cor da vó parece com preto. A sua , a de João seu pai. Nós índios, caboclo, ai o sol cozinhou a gente e nós ficou dessa cor de jaçanã. De noite é preto. De dia é branco. É o contrario, num sabe , isto que você enxerga é o preto, as trevas. Então é fácil de explicar. Nas trevas é que mora o caipora, os Saci- Pererê, tudo que é assombração, gente que não tem caridade. Tenha medo não que a onde a vó está eles não vem não. Vixe! Desabafa! Deus é amis. Deus é do céu que é tudo branquinho. Foi os pastor da igreja, aqueles homens da língua enrolada foram que ensino, aqui no mira é assim. É tudo gente que sabe, gente do céu. São tudo branquinhos também. Branquinho, branquinho! Duma alvura só. Mas o céu é alto. Custoso de chegar tem o céu azul e o céu branco. O azul está aqui mais perto aonde tem as nuvens. As nuvens é igual a algodão. Você conhece algodão? Não ? então é a fruta do ingá. Macia, assim, assim, se desse conta a gente podia ficar sentadinho em cima dela delas que não caia não. Mas é de altura que nem os passarinhos chega lá. Tem dias que eles desce na copa das arvores. Ai, se você obedece direitinho, a vó manda o Laurípio te botar arrumadinho em cima das nuvens. Alto? Alto é um longe para cima, como daqui do paraná do Dêo. Só se jogar flexa com muita força para chegar lá.

Você não sabe que depois ela cai? É porque bate no céu e volta. Mas não pensa nisso não. Já é depois da chuva. Tem um arco-íris muito grande bebendo água no igarapé. É uma roda bonita demais. cheia de riscos de cor! Pudera ver. É de levar água e comida para os anjos de nosso senhor. Quem achar onde ele caba ou começa ganha um pote de ouro, ou se transforma de homem para muié ou de muié para homem. Ninguém acha. Já saiu gente daqui cortando água de remo e motor, mas quando chega no furo ele já sumiu, é de poder de deus. Nem os que tem taberna cheia de coisas boa. Ai é. Escuta direitinho a vó. Quer mascar tabaco? Quer não? Farinha tem. Trás aí o menininha, pro curumim. Na lata vermelha: de banha. Você não quer saber como é vermelho, meu menino? É igual às pernas de arara. Aperta bem os olhinhos. Agora espia no rumo do sol. Não, pro outro lado. Espera aí. Não bambeia os olhos. Viu? Isso é vermelho, a cor do sangue de Jesus. Esse passarinho que come aí nas amoras é vermelho também. Vermelho de bico preto. As asas são brancas. O branco é mais difícil. Não afrouxa os olhos não. Está vendo como que uns ciscos no vermelho? É estrela. Estrela é amarela. Igual que ás bagis de milho e as pernas do canário ou mamão maduro. Tem muita flor amarela

Tem cravo, esse que cheira muito de tarde, tem margarida e girassol, tem demais. A vó que planta tudo ai no casco. Então quando é de noite o céu é carregadinho de estrelas, parece o arroz de marreca cheio de florzinha no meio. Aquele boi do Laudelino que fica preso aí na maromba é amarelo também. Os chifres é de um preto mais doente, tirado para o cinza. Cinza então é o preto mais entupido, mais no meio do caminho. É triste, mas é da natureza. Essa natureza que está aqui, dando vida a tudo que dela participa. Nós aqui, vivendo esta beleza agradecemos a Deus por dar pra gente tão bonito luar. Tomara, meu pretinho, que  a gente tenha sempre isso por aqui. Que não venha homem na cidade grande para acabar com isso aqui. Essa é a nossa vida. É a vida que deus deu pra gente.

Ivanir Aguiar é jornalista e membro da Academia Vilhenense de Letras

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