Coluna escrita por Sérgio Pires/ Foto: Ilustração

O número de contaminados pelo corona vírus deu um salto, apenas em Porto Velho, nesta segunda. Até a noite de domingo, eram apenas 42 os casosque haviam sido detectados com a doença, incluindo os do interior do Estado.

No início da noite da segunda, esse número já estava beirando os 80 e caminhando para 100, deixando de cabelos em pé os responsáveis pela saúde pública. E ao menos 30 destas pessoas, com casos já confirmados, participaram de uma grande festa, realizada no centro da cidade, no sábado, dia 4 de abril, onde um ou mais de um dos participantes estavam com o vírus e passaram para dezenas.

Podem haver ainda muito mais casos, a partir dessa festa, feita já quando os cuidados contra a doença exigiam o isolamento. As más notícias não param por aí. Uma pessoa presente ao  evento confidenciou à coluna que muitos dos participantes à comemoração, infelizmente, eram médicos, enfermeiros e outros profissionais da área da saúde, exatamente os que têm as maiores informações sobre os riscos de transmissão da doença. Reuniões, agrupamentos, festas, comemorações e até velórios são ocorrência onde há enorme risco de transmissão do vírus.

A festa realizada no sábado, dia 4 passado, reuniu um grande numero de amigos, muitos trocando apertos de mão, abraços e confraternizando, numa aglomeração que é um verdadeiro centro de enorme risco para que o perigoso vírus. Ali, ele encontrou o local e o grupamento certo para se disseminar.

Nesta segunda-feira, noite adentro, equipes da saúde estavam tentando levantar maiores informações sobre a reunião festiva e, ao mesmo tempo, com alto risco. Pelo menos 30 pessoas que estiveram no encontro já tiveram seus exames confirmados como positivos. Agora, a batalha é descobrir todos os presentes, saber quais dentre eles, ainda não examinados, podem estar com o vírus e os contatos familiares e pessoais de cada um.

Como cada pessoa contaminado pode, potencialmente, passar o vírus para outras 18 pessoas, apenas entre as 30 já haveria preocupação, principalmente, com 540 porto velhenses passíveis de ter a doença. E se cada um doa 540 a passarem para outros 18, seriam 9.720 os atingidos.

Ou seja, uma festa feita numa hora errada, contra todas as orientações sobre proibição de aglomerações e  ainda com a presença de gente da área da saúde, pode desencadear uma cadeia de contágio que pode atingir milhares de pessoas. Exatamente numa cidade onde o corona vírus estava sob controle e o número de casos era o menor do país. Agora, não se sabe o que pode acontecer nos próximos dias. Lamentável!

UM ANO DA PAU OCO: DANIEL AINDA PROTESTA

O ex governador Daniel Pereira não se cala, quando se trata da Operação Pau Oco. Ela aconteceu em 12 de abril do ano passado e o envolveu, como acusado num pretenso esquema de corrupção durante seu mandato como governador, no final de 2018.

Desde o primeiro momento, Daniel contestou a ação, a prisão de algumas pessoas que atuavam na Sedam à época (pessoas inclusive da confiança e amizade dele) e se dizia vítima de um complô. Nestes doze meses, sempre que instado a falar sobre o assunto, ele contestou a ação e a forma como foi tratado, ele e sua família, em sua própria casa, durante a ação policial autorizada pela Justiça.

Meses depois da Pau Oco, começaram a aparecer na mídia algumas gravações de delegados e pelo menos um membro do Ministério Público, colocando sob suspeita todo o procedimento. Daniel lembra, aliás, que tanto os delegados envolvidos na operação como o representante do Ministério Público foram afastados do caso. Jamais o seriam, sublinha, se tudo nela tivesse sido feito corretamente. Também protestou contra o fato do processo ter sido mandado ao STJ, através de uma legislação já cancelada pelo STF há longo tempo.

Diz que quem deveria estar dando explicações agora são membros da polícia, do Ministério Público e do Judiciário e reafirmou que foi vítima de uma armação, praticada “por uma organização criminosa” que, segundo ele, “agia dentro da polícia”. O caso, tanto tempo depois, ainda ferve.

ECONOMIA NA UTI, SEM RESPIRADOR

Nessa semana, em Rondônia, alguns prefeitos começam a afrouxar algumas medidas de isolamento, desde que dentro do que determina o decreto de calamidade pública do governo. Ariquemes tentou, mas a Justiça não permitiu. Decisão do TJ considerou que as decisões da saúde mundial estão acima das decisões locais, como as do governo de Rondônia. Ji-Paraná e Vilhena também cancelaram vários itens dos decretos anteriores, permitindo a abertura de parte do comércio.

Claro que os dois casos também vão bater nos tribunais, porque, nesse momento, quem está mandando no país é o Judiciário, que tem impedido medidas tomadas tanto em nível federal, quanto estadual e municipal, para afrouxar um pouco a calamidade pública e permitir que parte das pessoas voltem a trabalhar, para poderem comer. Não se sabe, no correr do caso, quem realmente está certo.

Só o futuro dirá se os que defendem o isolamento total estavam corretos, mesmo que o Pais quebre ou se os que pensam o contrário é quem estavam com a razão. Em breve saberemos também se a decisão de afrouxar os decretos de calamidade, em algumas cidades (se a Justiça deixar) foi um risco corrido em vão ou se foi feito o mais certo, para que a economia brasileira não morra na UTI, sem respirador!

ESCOLA DO LEGISLATIVO E AS CESTAS BÁSICAS

Um dos muitos exemplos de solidariedade e amor ao próximo está sendo dado pela Escola do Legislativo. Trabalhadores do mercado informal, receberão apoio enquanto durar a crise do corona vírus, para terem o que comer. A Escola do Legislativo vai realizar uma grande campanha de coleta de cestas básicas, para serem distribuídas exatamente entre as famílias mais necessitadas.

O diretor da Escola, Fábio Ribeiro, diz que a arrecadação começa logo e que todas as cestas básicas recolhidas serão distribuídas àquelas pessoas que, sem ter qualquer renda, estão prestes a passarem fome. A iniciativa tem apoio do presidente Laerte Gomes, da Mesa Diretora e de todos os parlamentares. A Escola já tem uma relação de famílias cadastradas, que passarão a receber os alimentos o mais urgente possível.

EMPRESAS: A TEORIA SE ENCONTRA COM A REALIDADE

Vai começar a bater o desespero. Nos próximos dias, quando as empresas tiverem que começar a fazer os pagamentos das suas contas (algumas não conseguiram ainda honrar o salário dos funcionários, parados há cerca de um mês), a teoria vai se encontrar com a prática. Ou seja, o isolamento exigido pelas autoridades sanitárias vai começar, claramente, a mostrar sua outra faceta, em direção ao quebra-quebra de empresas, principalmente se a crise do corona vírus continuar por mais algumas semanas ou meses.

Duas entidades patronais – a Fecomércio, cujo nome já resume quem representa e o Singaro, o sindicato dos atacadistas – entraram na Justiça, com pedido de liminar, para      que seus associados não paguem tributos estaduais durante seis meses. Está incluído no pedido, o não cumprimento de acordos de parcelamento de dívidas para com os cofres da Sefin. Caso atendidas essas duas entidades, certamente abrirão as portas para dezenas de outras, correndo-se o risco de esvaziamento dos cofres do Estado.

As empresas e seus empregados da iniciativa privada estão pagando a conta pelo corona. Sem arrecadação de impostos, o Estado terá como cumprir seus compromissos, incluindo aí o pagamento em dia do salários do funcionalismo? Essas e muitas outras perguntas ainda não têm respostas. Mas as terão em breve.

ELEIÇÃO: SAI? NÃO SAI? QUANDO SAI?

O tempo avança e os preparativos da eleição programada para outubro, nos 1.570 municípios brasileiros, continuam dentro dos prazos projetados pela legislação eleitoral. Mas tudo pode mudar, como o Brasil e o Mundo mudaram, por causa do corona vírus. A ministra Rosa Weber já avisou que a eleição sai sim e que não será suspensa, como pedem vários setores da sociedade. O próximo presidente do TST, ministro Luis Roberto Barroso, que assume em maio, também tem repetido que a eleição sai.

Nessa semana, contudo, o tom otimista começou a dar lugar a frases mais conservadoras. O próprio Barroso disse, em entrevista à rede de TV CNN, que há sim a possibilidade de mudanças no calendário eleitoral de 2020, devido à pandemia do corona, mas deixou claro que é muito resistente a essa possibilidade. Caso seja necessária alguma mudança, o futuro presidente do TSE afiançou que “defendo é que, se houver necessidade de se postergarem as eleições, que seja pelo prazo mínimo indispensável, para que elas possam se realizar com segurança para a população”, disse o ministro.

Ele diz que não realizar as eleições municipais seria “um grande risco à democracia”. Ou seja, por enquanto, não se sabe se sai, se não sai e se sai, quando sai a disputa municipal deste ano.

VIOLÊNCIA ESACERBADA DOMINA NOSSA CAPITAL

Enquanto só se fala em corona vírus, a violência campeia nas cidades brasileiras. Em Porto Velho, só nesse final de semana, os criminosos tiraram quatro vezes e meia mais vidas do que as duas, lamentavelmente perdidas  pela Covid 19. Foram nove vítimas, a maioria jovens. Entre elas, o jovem Beto Andreoli, filho do casal Paulo Andreoli, ele um dos empresários mais importantes das comunicações do Estado, dono do site Rondoniaovivo.

A família Andreoli foi apenas uma das que choraram seus mortos, de forma abrupta, selvagem, covarde. Também voltaram, com toda a força, as gangues dos anos 80 e meados de 90, que se rivalizavam nos bairros. Guerreavam entre si, num verdadeiro banho de sangue, até que policiais duros, com carta branca para agirem, acabaram com essa vagabundagem, que tomava conta de várias regiões da Porto Velho daqueles tempos.

Agora muito mais organizadas, com o pomposo nome de facções, com muito dinheiro de roubos, assaltos e assassinatos praticados aqui fora, mas planejados de dentro das cadeias, os grupos criminosos se confrontam pelo domínio do poder e pelo tráfico de drogas, nos bairros mais distantes e pobres, principalmente e em conjuntos habitacionais de famílias entre as mais carentes, para imporem-se pelo medo.

À MERCÊ DA CRUELDADE E DA MORTE

Quando os interesses das facções são contrariados pelos rivais, a guerra começa. E ai de quem estiver no meio do fogo cruzado. Três menores de 17 anos, um quarto de 18 e outro de 19 estão entre os mortos. É simbólico: parte da nossa juventude está sendo exterminada aos poucos. Os maiores problemas se concentram exatamente onde são obrigados a viverem os mais pobres.

Quando não atirados em áreas sujas, putrefatas de esgoto ou outras sujeiras e que, além disso ainda alagam, destruindo o pouco que eles têm, são os que se amontoam em conjuntos habitacionais mal planejados, mal cuidados, muito mal policiados, as maiores vítimas. O caso do Orgulho do Madeira é o melhor dos piores exemplos. Os moradores foram jogados num verdadeiro novo e gigante bairro da Capital, com uma infraestrutura sofrível. Deixaram uma vida de miséria e sub habitações, para morar num lugar melhor, mas onde quem manda são os criminosos.

De vez em quando, como nesta segunda, a polícia vai lá e faz uma limpa na bandidagem. Dias depois, eles estão de volta. A Covid 19, mais dia menos dia vai passar. Mas o pesadelo dos pobres de Porto Velho e tantas outras capitais brasileiras será eterno, enquanto durarem tantas leis e tanta gente protegendo bandidos, mas deixando o cidadão comum refém  do martírio, da crueldade, da morte.

PERGUNTINHA

Não dá uma grande tristeza, quando se vai um gênio da música popular brasileira como Moraes Moreira, deixando o país jogado nas mãos de excrescências culturais como sertanejo universitário e outros tipos deprimentes de música?

sicoob

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