PIPOCA capaFrancisco dos Santos, 58 anos, esquizofrênico. Você conhece essa pessoa? Com certeza sim, só não sabe seu nome.

Conhecido em toda cidade como “Pipoca”, uma das figuras mais populares de Vilhena começou há três semanas um tratamento oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para minimizar o seu problema psíquico e tentar levar uma vida normal, sem a agitação típica de sua personalidade, que o motivava a sair sempre às ruas com pedaços de pau e latas, normalmente gritando, e tentando intimidar as pessoas que passavam por perto dele, com as “armas” que tinha em mãos.

Segundo o coordenador da unidade municipal do CAPS, Rafael Nunes Reis, a ideia de tratar pacientes como Francisco dos Santos existe no órgão sempre existiu, porém por conta do excesso de trabalho, e pelo fato de a equipe ser reduzida, acaba levando mais tempo do que o necessário para desenvolver alguns projetos voltados aos assistidos pelo centro de atenção.

Rafael contou que o primeiro contato foi feito por ele mesmo, pois Francisco dos Santos, não tem afeição pela figura feminina, e acaba criando uma resistência pela aproximação de mulheres. “No nosso primeiro encontro ele tentou me atacar com um pedaço de pau. No dia seguinte eu o procurei, e me apresentei novamente e ele se lembrou de mim. Foi quando disse que estava sentindo dores na garganta, e começamos a conversar. A partir daí ganhamos a confiança dele”, relembra o coordenador do CAPS.

Rafael Nunes dos Reis explicou que a chave para iniciar um tratamento psiquiátrico com pacientes como Francisco dos Santos é a confiança. “Precisamos ganhá-la para em seguida iniciar o tratamento”, acrescenta o coordenador do CAPS. O representante do Centro de Atenção Psicossocial contou, ainda, que recebeu algumas visitas de pessoas que sentiram a falta de Francisco dos Santos na rua desde que o tratamento iniciou. Mais calmo ele diminuiu suas caminhadas e está passando mais tempo em casa. “O Francisco não deixou de sair, continua suas caminhadas normalmente, porém com menos intensidade”, disse Rafael Nunes dos Reis.

A medicação utilizada no paciente, segundo o coordenador do CAPS, é muito forte. Porém se faz necessária no início do tratamento, que tem toda a atenção e acompanhamento dos profissionais que prestam serviço no centro de atenção. “Nos procuraram para questionar o motivo pelo qual estávamos utilizando a medicação no Francisco dos Santos. É para o bem dele, e as doses utilizadas foram estipuladas por profissionais capacitados. Ele nunca recebeu nenhum tipo de tratamento, por isso tinha agitação contínua. A mudança é realmente brusca”, enfatizou Rafael.

A família dos Santos, da qual Francisco pertence, segundo os profissionais do CAPS, está muito feliz com a mudança do ente, e autorizou o tratamento. A irmã que cuida dele, Ivani dos Santos, disse que nunca havia conseguido conversar com Francisco, e depois do início do tratamento consegue estabelecer uma comunicação normal com ele. “Ela disse que chorou quando o Francisco a procurou e pediu macarrão pra comer”, comentou Rafael.

Caso o leitor não tenha notado, o apelido de Francisco fora mencionado apenas uma vez nesta matéria, justamente porque se fez necessário, como uma forma de juntar o nome à pessoa. Foi proposital. Segundo Rafael Nunes Reis, um dos procedimentos utilizados pelo CAPS para auxiliar no tratamento do paciente é fazer com que ele se desvencilhe do seu apelido, que há décadas o antecede. “Sempre estamos perguntando pra ele o seu nome, e responde citando o apelido. Aí explicamos pra ele que se chama Francisco. Ele é um ser humano, com RG, CPF, cartão do SUS. Sempre foi chamado pelo apelido, e perdeu um pouco da identidade. Estamos tentando mostrar pra ele isso”, enfatizou o coordenador do CAPS.

Os profissionais envolvidos neste projeto conseguiram fotografar Francisco dos Santos, e a imagem será impressa e emoldurada, para em seguida ser exposta no quarto dele. Rafael contou que além da foto, irão colocar um espelho para que possa se ver enquanto pessoa. “Faz parte do tratamento. Ele não tem o hábito de se ver, por isso iremos ajudá-lo a fazer isso”, afirmou Rafael. A equipe do Centro de Atenção Psicossocial está empenhada em trazer mais dignidade a Francisco dos Santos. Para isso estão tentando comprar uma cama e um guarda roupas para colocar em seu quarto. “Quem puder nos ajudar pode entrar em contato pelo telefone 3322 1607”, acrescentou Rafael.

Os tempos de agitação de Francisco são lembrados pela vizinhança, que relatou aos agentes do CAPS que há anos não conseguiam dormir com tranquilidade porque conta dos ataques e alucinações sofridas pelo paciente. “A irmã dele contou que depois que iniciamos o tratamento ele passou a dormir durante a noite, e as crises cessaram”, conta o representante do CAPS, que faz um pedido à população: “Quem notar que o Francisco está agitado na rua, pedimos que entre em contato conosco para nos informar, pois é um indicativo de que ele não tomou a medicação. Nós não o forçamos a tomar os remédios, mas há dias que ele se nega em recebê-los, então aplicamos a medicação inserida na alimentação. Normalmente ele toma por vontade própria”, explica Rafael.

A equipe que vem trabalhando com Francisco dos Santos está comemorando todas as vitórias conquistadas neste início de tratamento. A última foi o fato de ele ter aceitado ir à sede do CAPS, na tarde desta terça-feira, 30, para uma nova avaliação psiquiátrica. “Ele nunca tinha ido ao hospital, e nós conseguimos leva-lo normalmente. As pessoas ficaram impressionadas ao ver sua calma”, arrematou Rafael.  A repetição do nome do paciente neste texto jornalístico também se faz necessário. É uma forma de apresentar formalmente às pessoas uma informação nova sobre Francisco dos Santos, que está presente no cotidiano de muitas pessoas, que com certeza têm histórias nas quais ele, Francisco, é personagem.

Conhecido em toda cidade como “Pipoca”, uma das figuras mais populares de Vilhena começou há três semanas um tratamento oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)
Conhecido em toda cidade como “Pipoca”, uma das figuras mais populares de Vilhena começou há três semanas um tratamento oferecido pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS)

Texto: Extra de Rondônia

Foto: Divulgação

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