“Tia Dora” recebeu, em sua casa, à reportagem do site nesta segunda-feira, 18 / Foto: Extra de Rondônia

Em comemoração aos 42 anos de emancipação político-administrativa de Vilhena, que acontece neste sábado, 23, o Extra de Rondônia dá sequência à série de entrevistas onde pioneiros da cidade vão contar um pouco da história local através de suas experiências.

Hoje, o site traz a história da professora Doralice Mendes da Rocha, a conhecida “Tia Dora”.

Recém-casada em 1.974, ela embarcou numa jornada que mudaria radicalmente a sua existência e influenciaria gerações de vilhenenses por quase meio século.

Com 20 anos de idade, Doralice vivia em Querência do Norte, no Paraná, quando o sogro resolveu partir para Rondônia atraído pela oferta do governo federal de distribuição de terras para colonizar a Amazônia.

Seu marido quis acompanhar o pai e assim a família acabou chegando em Vilhena no início daquele ano, dando início a uma trajetória que ficou marcada na história da educação local, tendo também participação na política da cidade.

A primeira impressão que Doralice teve da sua nova moradia não foi das melhores. “Nós já estávamos no vilarejo e eu ainda achava que não tínhamos chegado”, relembra com uma risada a pioneira.

Mas, passado o momento, ela arregaçou as mangas e partiu para a ação, se apresentando na única escola da cidade, o Colégio Wilson Camargo. “Na época eram apenas duas salas de aulas, com ensino de primeira a quarta série, com turmas agregadas. Fiquei responsável pelo terceiro e quarto ano, cujos alunos estudavam juntos, na mesma sala”, conta a professora, que já na época começou a ser chamada de “Tia Dora”.

Se o desafio dentro da sala de aula era enorme, fora dela não mudava muita coisa. “Pela carência de funcionários tínhamos que dar aula, trabalhar na secretaria e ainda cuidar da limpeza do colégio. Eu praticamente mudei para a escola”, disse.

As dificuldades não paravam por aí: todo o material didático tinha que ser encaminhado da capital, e para receber o pagamento os funcionários precisam ir pessoalmente a Porto Velho. “Quando recebi pela primeira vez o salário tinha seis meses acumulados, e nos primeiros tempos era só desta forma que dava pra fazer, pois a viagem era muito demorada e a escola não podia parar”, lembra.

Sua passagem pelo Wilson Camargo durou mais de uma década, a escola foi aumentando e se aprimorando, novos professores chegaram e aos poucos as lacunas foram sendo cobertas. “Um dos piores problemas era a carência de professores especialistas em determinadas matérias, mas com o tempo isso foi melhorando”.

Tia Dora ficou no colégio até 1.985, chegando a ocupar a função de vice-diretora. Em seguida, deu continuidade a carreira na Escola Álvares de Azevedo, a qual chegou a dirigir. E de lá acabou ingressando na política, o que manteve temporariamente sua dedicação exclusiva à Educação.

A participação na política local teve início com incentivo do deputado Genival Nunes, que a lançou no meio numa festa de aniversário que o parlamentar promovia em sua residência. “Foi em 88, época em que eu era diretora do Álvares de Azevedo, onde estudavam os filhos do deputado. No meio da festa ele me passou o microfone e eu falei de improviso pela primeira vez, tendo boa aceitação”. Daí para uma candidatura a vereança foi um salto, e no mesmo ano ela conseguiu ficar na primeira suplência da Câmara Municipal e acabou indo trabalhar em Porto Velho, no gabinete do deputado, fazendo trabalho social.

A morte de Genival colocou Dora sob influência do também deputado estadual vilhenense Newton Schramm, para quem prestou serviços até que conseguiu se eleger em 1.992. Exerceu apenas um mandato, mas acredita que foi um trabalho produtivo. Ela tentou retornar ao Legislativo local algumas vezes, mas não obteve sucesso: “fazer política com a cara e a coragem, mas sem dinheiro não dá”.

Mas, o revés acabou lhe proporcionando a realização de um objetivo: montar uma creche para atender famílias carentes da cidade. E isso acabou acontecendo em 1.996, missão que mantém até hoje. Nem mesmo um momento difícil que passou tempos atrás, após enfrentar uma grave doença, lhe tirou a motivação. “A creche ficou o ano passado desativada, mas este ano voltamos ao trabalho e retomamos as atividades de forma mais modesta, porém estamos atuantes”. A Creche Tia Dora atendeu centenas de crianças ao longo de mais de duas décadas.

Olhando para trás, Doralice se considera uma pessoa realizada, com muito orgulho de ter participado da construção de Vilhena e seu sistema educacional. “Quando lembro aquela pequena vila, onde tínhamos que lavar roupas no rio, levámos semanas na estrada em viagens para a capital e tínhamos problemas para compor o quadro de professores na escola, e hoje vejo essa grande cidade, que é uma referência na educação de Rondônia me sinto plena e realizada, e tenho certeza que minha vida valeu a pena”, afirma.

Doralice Mendes da Rocha compôs uma grande família em Vilhena, passou por bons e maus momentos como todos nós, e encara o futuro com otimismo e determinação. “Quero continuar meu trabalho com crianças e poder continuar a contribuir com a educação infantil, apostando sempre na formação de bons cidadãos a partir da infância”, finaliza a pioneira.

sicoob

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